Artigo

As gaiolas do Zé

Evoti Leal
Barbeiro e escritor


Tempos atrás, antes de vir para Pelotas, conversando com um amigo meu de Curitiba, caminhoneiro mudanceiro, ouvi dele uma história curiosa. Aliás, ele me disse que colecionava fatos curiosos que presenciava nos lugares para onde viajava, levando mudanças no seu baú trucado.
Este fato ele disse que ocorreu numa cidade que não lembro o nome, lá do centro norte do Paraná.
A cidade, apesar de grande, tinha um aspecto bem campesino, por ser rica em áreas abertas e verdes, com bosques de árvores nativas espalhados por toda a região urbana.
Tinha ali um marceneiro chamado Zé. E disse o Zé ao meu amigo que muita gente o chamava de Zé das gaiolas, por ter sido ele um fabricante de gaiolas, as quais vendia a bom preço, pois as fazia o seu trabalho com muito esmero e com uma qualidade incomparável.
Mas um dia o Zé tornou-se vegano e, por conta disso, não compartilhava mais a ideia de prender os bichos em gaiolas. Disse que conseguiu comprar de volta mais de vinte gaiolas que havia vendido, ofertando bom dinheiro por seus pequenos habitantes, belos passarinhos, soltando-os na Natureza e destruindo, ato contínuo, aquela prisão que ele mesmo havia construído com arte.
Mas, segundo ele mesmo, era tanta gente a procurá-lo em busca de uma gaiola, que decidiu fazer algo inusitado.
Fabricou três gaiolas, em três tamanhos diferentes, e as colocou em uma das peças do seu atelier de artesanato em madeira.
De repente, alguém lhe pergunta: “Zé, você pode me fazer uma gaiola?”
O Zé responde: “Posso, sim. Tenho três modelos. Venha ver”...
Chega até a porta da peça onde elas estão e explica para o cliente, apontando para as gaiolas, num tom sarcástico: - “Se é pra você mesmo, tenho aquela maior. Se for pra um filho seu, tenho estes outros dois tamanhos. Aí vai depender do tamanho dele!”
O cliente se afasta indignado, mas ele o acompanha até o portal da casa, falando: “A maioria dos bichinhos que eu ajudei a aprisionar com as gaiolas que fabricava, consegui libertar e destruí as malditas prisões, que não pretendo construir igual nunca mais. Compre sua gaiola noutro lugar, mas não se esqueça das que eu lhe ofereci. São ótimas para prender humanos!”
E a história termina com meu amigo e eu comentando sobre a coragem do Zé.
E sobre a grande lição que ele estava passando àquelas pessoas.
Fico só imaginando como seriam aquelas gaiolas do Zé.

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